sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Caverna, José Saramago (Frases escolhidas)

Dizer que adorei o Memorial do Convento será pouco. Senti-me ferido com a raiva que me pareceu estar por detrás do Ensaio Sobre a Cegueira. Mas por "insistência" de uma doce amiga, voltei a Saramago, mais precisamente ao A Caverna. Deixo aqui fragmentos de uma espiritualidade cujo significado mais profundo, quem sabe, José Saramago só deverá ter realmente entendido ao desencarnar.


Quanto ao oleiro, esse leva vividos anos mais do que suficientes para saber que a melhor maneira de fazer morrer uma rosa é abri-la à força quando ainda não passa de uma pequena promessa em botão.

A porta da cozinha estava aberta, a mulher vinha aí, aproximava-se cada vez mais, ia aparecer, se este novo encontro não é feito de um acaso fortuito, de uma mera e casual coincidência, se estava previsto e registado no livro dos destinos, nem mesmo um terramoto lhe poderá impedir o caminho.

É uma estupidez deixar perder o presente só pelo medo de não vir a ganhar o futuro (...)

Se te espetam uma faca na barriga, ao menos que tenham a decência moral de te mostrarem uma cara que se conforme com a acção assassina, uma cara que ressumbre ódio e ferocidade, uma cara de furor demente, até mesmo de frieza humana, mas, por amor de Deus, que não te sorriam enquanto te estiverem a rasgar as tripas, que não te desprezem ao ponto extremo, que não dêem esperanças falsas, dizendo por exemplo, Não se preocupe, isto não é nada, com meia dúzia de pontos ficará fino como antes (…)

A Isaura, disse Cipriano Algor, é de opinião de que nos deveríamos deixar levar pela corrente do que acontece, que sempre chega um momento em que percebemos que o rio está a nosso favor (...)

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