quinta-feira, 31 de março de 2022

(Yogāsana) Sequência Global II – Média intensidade

Invocação e Saṅkalpa

Siddhāsana


Preparação I

Aquecimento muscular e articular [5-10m]

Preparação II

Sūrya Namaskāra [3 ciclos | respiração livre 5x em Adho Mukha Śvānāsana]






Desenvolvimento – Posturas de Pé

=> Utthita Hasta Pādāsana (Postura Base e Intercalar)
    => Utthita Trikoṇāsana [30s]
    => Parivṛtta Trikoṇāsana [30s]
    => Vīrabhadrāsana II [30s]
    => Utthita Pārśvakoṇāsana [30s]
    => Parivṛtta Pārśvakoṇāsana [30s]
    => Vimānāsana [30s]
    => Vīrabhadrāsana I [30s]
    => Pārśvottānāsana [30s]
    => Prasārita Pādottānāsana [30s]






Invertida I

Śīrṣāsana [1-3m]


Desenvolvimento – Extensões da Coluna

Śalabhāsana [15-30s]
Makarāsana [15-30s]
Dhanurāsana [15-30s]


Recobro I

Supta Baddha Koṇāsana (c/ suporte – cinto) [3-5m]


Desenvolvimento (Posturas abdominais)

=> Daṇḍāsana (Postura Base e Intercalar)
    => Paripūrṇa Nāvāsana [30s-1m]
    => Ardha Nāvāsana [30s-1m]



Desenvolvimento – Flexões da Coluna

=> Daṇḍāsana (Postura Base e Intercalar)
    => Jānu Śīrṣāsana [1-3m]
    => Paschimottānāsana [1-5m]


Invertidas

Halāsana [1-2m]
Sālamba Sarvāngāsana [3-5m]


Recobro II

Supta Baddha Koṇāsana (c/ suporte – cinto) [3-5m] ou Paryankāsana (c/ suporte – bloco na linha das omoplatas) [1-3m]


Relaxamento final

Śavāsana [5m]


Notas:
  • Assumir como foco meditativo um ou três aspectos coordenados: (1) a respiração no seu natural (ujjāyī); (2) o alinhamento postural; e (3) a coordenação entre os movimentos e o discorrer da respiração.
  • Duração programada de 1h30 a 2h.


Advertências:
  • Esta prática requer preparação física e conhecimento aprofundado de Yogāsana, pelo que requer o acompanhamento de um professor consciente.

Fotografia: @pedrovillafoto | www.pedrovillafoto.pt

quarta-feira, 30 de março de 2022

(Artigo Académico) Yoga Upaniṣad-s

Conhecem-se mais de 200 Upaniṣad-s, oral e textualmente redigidas ao longo de milénios, a maioria delas traduzidas, pelo menos para o inglês. De entre este leque, a generalidade dos Tradicionalistas Hindus defende um Cânone de 108, denominado Muktikā (“libertação”). Estas, grosso modo, são divididas de acordo com datação e temática dominante. Temos então as mais antigas, Mukhya ou “Principais”, e Sāmānya, Sannyāsa, Śākta, Vaiṣṇava, Śaiva e Yoga, também designadas como “Menores” ou Upa.

Neste Cânone as Yoga Upaniṣad-s constituem um conjunto de textos relativamente mais recentes, onde se incluem: Nādabindu, Yogachūḍāmaṇi, Darśana, Amṛtabindu, Tejobindu, Amṛtanāda, Kṣurika, Dhyānabindu, Brahmavidyā, Yogatattva, Yogaśikhā, Yogakuṇḍalini, Varāha, Advayatāraka, Haṃsa, Triśikhi, Maṇḍalabrāhmaṇa, Śāṇḍilya, Pāśupata e Mahāvākya Upaniṣad.

Estas Upaniṣad-s, como a tipologia o indica, versam o Yoga, nas suas componentes Teórica e Prática, em muitos aspectos mediante uma tonalidade que mistura elementos heterógenos de: de Yoga Clássico Patañjali; Yoga pós-Clássico; Tantra e Vaiṣṇava; Haṭha; e, obviamente, Vedānta. Na verdade, uma das questões que dificulta a datação deste corpo de Upaniṣad-s poderá ter a ver precisamente com a incorporação de ideias do Haṭha, que poderá ter ocorrido numa fase posterior à sua transmissão e redacção iniciais. Como sempre, pouca certeza há a este respeito.

Da Ontologia à Metodologia Soteriológica, as Yoga Upaniṣad-s versam crítica e expositivamente variados elementos e abordagens do Yoga, curiosamente, muitos deles ausentes tanto na Bhagavadgītā como no Yogasūtra-s de Patañjali. Alguns destes textos apresentam o Yoga como um conjunto de “etapas” ou “auxiliares” (āṅga-s) que visam atingir, ou reencontrar, o natural estado de Libertação, portanto, em geral, enquanto “meio” e o “fim”. Com maior ou menor minúcia tratam-se preliminares éticos e disciplinares à prática, como yama e nyama, posturas (āsana), exercícios de expansão da respiração (prāṇāyāma), a internalização dos sentidos (pratyāhāra), concentração (dhāraṇā) e meditação (dhyāna), a Absorção (ou Samādhi), e conceitos como nāda, kuṇḍalinī e fisiologia subtil, imbuídos de uma tonalidade mais Tântrica.

A tonalidade vedântica neste Yoga por āṅga-s talvez se revele com maior saliência nas seguintes Yoga Upaniṣad-s: Nādabindu, Amṛtabindu, Dhyānabindu, Tejobindu, Yogaśikhā, Yogatattva, e Haṃsa (1). Em todo o caso, principalmente entre os “adeptos” do Vedānta, também se considera que é errado dizer que existam Upaniṣad-s “mais” vedânticas que outras, chegando-se a afirmar que a própria divisão em Yoga Upaniṣad-s não faz sentido na medida em que todas versam precisamente o Yoga, seja como for, que visam a discriminação e o reconhecimento da Natureza Una inerente ao indivíduo.

De facto, como por exemplo observam Eliade (2) e Feuerstein (3), tomado no seu todo, este grupo de Upaniṣad-s, promove um tipo de Yoga assente nos pressupostos basilares da metafísica Vedānta: tvam asi (“Tu És Isso”), Ahaṁ Brahmāsmi (“Eu Sou o Absoluto”) e sarvam bramāsti (“Tudo isto é o Absoluto”); por conseguinte, procuram revelar ou relembrar que a Realidade é Una e que em verdade estamos apenas com o Ser, ditoso e superconsciente. A esse Ser, estas Upaniṣad-s continuam a dar vários nomes, sendo as designações mais comuns o “Absoluto” (Brahman) e o Self/Si (Ātman). Assim, estes textos conservam no seu cerne a ideologia ancestral das Upaniṣad-s mais antigas, apesar de serem muito provavelmente oriundas de uma era pós-Patãnjali, daí: a sistemática proposta de divisão do Yoga em āṅga-s; e o facto de conterem profundos elementos de Haṭha, patente na alusão à transcendência do corpo na vivência da sua própria fisicalidade durante a prática de Yoga e seus processos.

Estes últimos aspectos têm sido abordados por investigadores do Haṭha Yoga Project, da SOAS-University of London (4) com particular destaque para o trabalho de Christian Bouy, Les Nātha-yogin et les Upaniṣads: Étude d'histoire de la Littérature Hindoue. Em todo o caso, no geral, ainda é preciso fazer uma análise aprofundada deste corpus de Upaniṣad-s, ao nível da contextualização histórico-cultural e de novas traduções e comentários, na medida em que o existente, de algum modo, não será suficiente.

Para uma primeira análise individual de algumas destas Upaniṣad-s, aconselha-se o resumo e organização temática proposta por Feuerstein (5):
  • Upaniṣad-s versando Absoluto enquanto Som e/ou Vibração: Amṛtabindu, Amṛtanādabindu, Nādabindu, Dhyānabindu, e Tejobindu;
  • Upaniṣad-s versando Som, Respiração e Transcendência: Haṃsa, Yogaśikhā, Yogatattva, Brahmavidyā, Mahāvākya e Pāśupata;
  • Upaniṣad-s versando um Yoga Fótico: Advayatāraka e Maṇḍalabrāhmaṇa;
  • Upaniṣad-s versando um corte com os nós da Consciência “vulgar”: Kṣurika;
  • e Upaniṣad-s versando a transmutação corporal segundo uma tonalidade Haṭha: Yogakuṇḍalini, Yogatattva, Yogaśikhā, Varāha, Śāṇḍilya, Triśikhi, Darśana e Yogachūḍāmaṇi.


Joel Machado


Notas
(1) Tal como proposto por P. Deussen, Paul (2010).
(2) The Yoga tradition, 1998.
(3) Yoga. Immortality and Freedom, 1958.
(4) http://hyp.soas.ac.uk/
(5) The Yoga tradition, 1998.




Bibliografia

Bouy, Christian (1994) Les Nātha-Yogin Et Les Upaniṣads. Paris. Diffusion de Boccard.

Deussen, Paul (2010). The Philosophy of the Upanishads. Edinburgh. Cosimo, Inc.

Feuerstein (1998) The Yoga tradition. Phoenix, Arizona. Hohm Press

Eliade, Mircea (1958) Yoga. Immortality and Freedom. New York. Princeton.

Feuerstein, Georg (1998) The Yoga tradition. Phoenix, Arizona. Hohm Press.
 
 
( īśopaniṣad | Foto/Créditos: Domínio público

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terça-feira, 29 de março de 2022

(Pedro Olivença) AcroYoga é Yoga?

AcroYoga é Yoga?

As minhas experiências com o Yoga e o AcroYoga estão intrinsecamente ligadas e têm simplesmente um ano de diferença entre elas, no entanto a prática regular de ambas coincidiu praticamente ao mesmo tempo durante a minha formação de professores de Yoga.

Apesar de ter tido algumas experiências e práticas irregulares desde 2016 no Yoga e desde 2017 no AcroYoga, foi em Setembro de 2018 que ambas passaram a estar presentes na minha vida e principalmente serem um pilar muito importante para o meu bem estar físico e mental, foram, e são, peças fundamentais para o meu equilíbrio emocional.

No seio da comunidade do Yoga muitas opiniões se dividem acerca da legitimidade do AcroYoga se considerar uma prática de Yoga ou não. Na minha singela opinião é sem dúvida nenhuma Yoga, e existem imensas razões para o considerar desta forma.

Ao contrário do que muita gente pensa, Yoga não é somente um conjunto de posturas meditativas ou super difíceis tal verdadeiro contorcionista, mas sim, e acima de tudo, um estilo e filosofia de vida, é uma forma de estar e de respeito para com os outros e para com nós próprios.

As duas primeiras etapas dum Yogi (estudante, praticante de Yoga) nos sutras de Patanjali são os Yamas e os Niyamas e ambas não têm nada a ver com posturas de Yoga (Asanas) ou exercícios respiratórios (Pranayamas) ou até mesmo meditação (Dhyana), mas sim a forma como nós interagimos com o nosso próprio ser e com tudo o que nos rodeia (natureza e com os outros seres).

Na minha experiência com o Yoga e com o AcroYoga encontrei muitos mais exemplos de Yogis na comunidade de AcroYoga do que na de Yoga, quer seja na consciência de sustentabilidadede recursos naturais, quer na forma como as pessoas são acolhidas, na forma como interagem umas com as outras e no sentido de partilha e cuidado para com o outro e para com a natureza.

Apesar de grande parte da ideia que se tem é que se trata dum actividade física com uma série de acrobacias inacessíveis ao comum dos mortais, na verdade praticamente toda a gente pode praticar e tem muito mais a ver com as ligações entre os intervenientes, a coordenação, comunicação, sincronização, respiração e o carinho para com o outro. Na verdade o AcroYoga assenta-se em 3 grandes pilares, as Acrobacias, o Yoga e o Thai Massage e convida-nos a interagir com os outros, induz-nos um sentido de proteção para com os demais e incentiva-nos a explorar as nossas fobias e receios. É também muito comum despertar alegrias nos seus praticantes, além de contagiar todos com uma sensação de bem estar físico e emocional, assim como uma verdadeira terapia muscular e mental.

Convido a todos os que ainda se sentem cépticos sobre esta modalidade, de antes de formarem uma opinião que venham experimentar, presencial, em primeira pessoa, do que se trata e das suas inúmeras vantagens, basta procurar no facebook por AcroYoga Greater Lisbon e ficar atento às jams e outros eventos promovidos pela comunidade. Durante o verão é normal termos jams completamente gratuitas em jardins, parques e praias pela área metropolitana da grande Lisboa (Cascais, Lisboa, Caparica, Sesimbra).

 

Pedro Olivença

@pedro_olivenca_yoga

https://www.facebook.com/polivenca

https://6sensesyoga.life/team-member-pedro-olivenca/


(Tori e Pedro em AcroYoga | Foto/Créditos: Pedro Olivença, Tori Mitchell)


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segunda-feira, 28 de março de 2022

(Artigo Académico) Os Períodos da História do Yoga

Para uma análise genérica dos diferentes Períodos Históricos do Yoga, poderá ter-se em conta um conjunto de aspetos, dos quais se referirão os que, para o caso, parecem mais relevantes. Primeiro, não é fácil definir datas, nem parecerá sensato a pessoa ater-se em demasia aos intervalos definidos, por inúmeras razões, destacando-se a dificuldade em datar os achados arqueológicos e produção textual que lhes serão contemporâneos. De facto, é quase unânime reconhecer que as versões textuais de vários textos basilares da Cultura Hindu, desde os primórdios Védicos, já eram oralmente transmitidos (paramparā) muito antes da redacção escrita e que ao longo desse processo foram sendo sujeitos a alterações mais ou menos profundas. Segundo, lembremos também que existem o Yoga Hindu, Budista e Jaina, pelo que aqui se falará quase exclusivamente do primeiro. Nesse sentido o enquadramento é definido com base no movimento de formação e cristalização do Hinduísmo ou Sanātana Dharma. Terceiro, de frisar ainda alguma contradição entre o que dizem os recontos tradicionais, engalanados pelo mito e, mais tarde, pelo nacionalismo, e as versões académicas, inicialmente tomadas por algum preconceito de cariz colonial, mas actualmente tendendo ao equilíbrio.

A Antropologia, Religião Comparada, Indologia, Estudos Orientais, Filologia Sânscrita, sob a batuta de figuras como Surendranath Dasgupta (1), Mircea Eliade (2), Elizabeth de Michelis (3), Feuerstein (4) e, mais recentemente, James Mallinson e Mark Singleton (5), entre outros, propuseram várias linhas cronológicas para enquadrar a génese e evolução do Yoga que, grosso modo, coincidem. Neste artigo, sem optar por uma linha específica, procurar-se-á integrar elementos das várias propostas, dentro do que parecerá fazer sentido, numa fase pré-escrita e, depois, numa sequência de fases caracterizadas pelo tipo de produção textual que as tipificam.

Assim sendo, a tese de que as origens do Yoga se encontram nas Tradições Xamânicas prévias e contemporâneas à Civilização do Vale do Indo parece ter alguma sustentabilidade. Fundamentalmente porque há inúmeros elementos do Xamanismo que vieram a ser encontrados (e ainda hoje se verificam) na teoria e prática do Yoga: metáforas e alegorias de base (o desmembramento e voo rituais, aquisição de super-poderes, entre outros), geração de calor corporal e posturas físicas. Deste Período, existem essencialmente registos arqueológicos, sendo o celebre Selo de Paśupati um deles, apesar de todo o folclore especulativo que se tem gerado ao seu redor. Este Período, que se poderia chamar Pré-Védico, temporalmente oscilaria entre 6500 a 4500 a.C.

Um segundo Período, Védico-Brahmânico, ocorrendo entre 4500 a 1500 a.C., é fundamentado pela Arqueologia e pelo conjunto de registos textuais que o caracterizam. Com efeito, algures nesta fase transcreve-se um corpus de literatura litúrgica, ritual, sócio-cultural e tardiamente filosófico-especulativa, que durante séculos, dir-se-ia até milénios, fora oralmente transmitida. Surge então a versão escrita dos Veda-s, constituídos pelos Saṃhitā-s, Brahmāna-s, Āraṅyaka-s e, numa fase posterior ou de transição, as Upaniṣad-s, todos agrupados em quatro tomos: Ṛg, Sama, Yajur e Atharva. Aqui teríamos aquilo a que Tradição Hindu denomina de Śruti, ou Transmissão por “Revelação”, o conjunto de textos directamente transmitidos da Esfera Divina aos Sábios védicos (ṛṣi-s). Deve-se referir ainda que neste Período muitas das práticas xamânicas (eventualmente, os próprios xamãs) teriam sido transformadas ou absorvidas pelos ascetas praticantes de Tapas, de algum modo menos mal vistos pela Ortodoxia Bramânica. Num Período Pós-Védico ou Upaniṣadico, de 1500-100 a.C., sinceramente difícil de separar do anterior, as primeiras Upaniṣad-s (denominadas Mukhya), supostamente influenciadas pelo Budismo e Śramaṇa-s (portanto, à margem do total controlo da Ortodoxia Bramânica), orientam a mudança no sentido da eclosão e subsequente desenvolvimento do Vedānta.

No Período Pré-Classico ou Épico, situado entre 1000 e 100 a.C., ocorrem também as versões transcritas dos grandes Épicos Hindus: Rāmāyaṇa e Mahābhārata, que inclui a Bhagavadgītā. Principalmente no último, de um modo sincrético, ocorre já um Yoga formal e sistematizado, sendo o Mokṣadharma um caso exemplar. A partir daqui temos o que a Tradição designa de Smṛti (Transmissão pela “Memória”). Do Período anterior a este, pode-se dizer que terá havido uma transição de um proto-Yoga para um Yoga pré-Clássico.

É no Período Clássico, situado de 100 a.C. a 500 d.C., com a formulação do Yoga Darśana e consagração do Yogasūtra-s de Patañjali pelas elites intelectuais Hindus, que o Yoga ganha status e aceitação socialmente transversais. Este é o momento de definitiva institucionalização e cristalização do Hinduísmo, pois a par da definição das Seis Escolas de Filosofia Ortodoxas (Ṣaddarśana), Sāṃkhya-Yoga, Nyāya-Vaiśeṣika e Mīmāṃsā-Vedānta, há toda uma imensa produção literária (Sūtra-s e Śāstra-s) que engoloba Tratados sobre Gramática, Etimologia, Fonética, Métrica, Astrologia, Arquitectura e Ritual.

De 500 a 1700 d.C. teremos o Período Tântrico-Purânico e Sectário (ou simplesmente Devocional), incluindo: Purāṇa-s, que já seriam oralmente transmitidos no Período Épico (eventualmente, muito antes para quem defende a tese do Purāṇa Original), mas “só” agora passam à versão escrita; Tantra-s, Āgama-s e Saṃhitā-s, respetivamente ligados às seitas Śaiva-s, Śakta-s e Vaiṣṇava-s; literatura sistematizadora do Vedānta sob a égide de Śaṅkara; e os Tratados de Haṭha. São séculos de transformação de um Yoga pós-Clássico, sincrético em vários aspectos, que foge com mais força do que nunca às “garras” da Ortodoxia Hindu, chegando a uma conjuntura em que é mal visto pela mesma, como é o caso de alguns grupos de Haṭha a partir de certa altura. Com efeito, no Haṭha há uma desvinculação da ênfase na filosofia-metafísica como base exaustiva do Yoga, em detrimento de um enfoque na consciência corporal e, consequentemente, em técnicas físicas que visam a aquisição de portentos (Siddhi-s) e da Libertação (Nirvāṇa, Mokṣa, Samādhi, Kaivalya…) a bordo do corpo – e apesar de Tantra e Vedānta colorirem o suporte ontológico e epistemológico das diferentes seitas de Haṭha, era comum encontrar entre os praticantes membros oriundos de vários grupos étnicos e culturais, como por exemplo Muçulmanos, Sikh-s, Alquimistas, e outros.

Surge finalmente o Período Moderno, de 1700 à actualidade, marcado primeiro pela colonização inglesa da Índia e, subsequentemente, pela sua independência e secessão do Paquistão. A “derradeira” entrada do Ocidente na Índia faz despertar o interesse na sua prolífica cultura, resultando nos primários grandes estudos académicos sobre o Sânscrito e Tradições Contemplativas da região. A independência da Índia e a óbvia resposta nacionalista que se lhe associou, deram o mote seguinte. Ramkṛiṣṇa Pôromôhongśa, Swami Vivekananda, Sir John Woodroffe, Paramahansa Yogananda, Sociedade Teosófica e Jiddu Krishnamurti, a lista não termina, espalharam o nome do Yoga pelo mundo. Entre o primeiro e o segundo quartel do séc. XX Em Mysore, T. Kṛiṣṇamācārya desenvolve uma forma de Yoga extremamente focada na prática de āsana que acaba por ter um estrondoso sucesso dentro e fora da Índia, fundamentalmente devido à acção de dois dos seus mais célebres estudantes: K. Pattabhi Jois e B.K.S. Iyengar. A percepção geral do Yoga assume uma tonalidade bastante física, por vezes esquecendo práticas “mais” basilares e ancestrais, na medida em que as formas contemporâneas de āsana, aparentemente, têm mais a ver com um revivalismo da cultura física mundial adaptado ao que já existia trazido de tradições xamânicas e ascéticas, como argumenta Mark Singleton (6). À entrada no novo milénio, o “yoga gímnico” da indústria de biliões de dólares anuais, dos escândalos de abuso sexual, das guerras de patentes, junta-se ao “velho Yoga”, tanto fora como dentro da Índia, mostrando que é uma Ciência Contemplativa viva, em constante mudança. A Literatura Académica mais recente vem dar, provavelmente, um derradeiro golpe no “corte” do Yoga com uma leitura exclusivamente sectária, publicando-se estudos com um foco cultural e técnico, que proporcionam uma visão provavelmente mais ampla sobre tudo o que engloba, no sentido da desmistificação, sem colocar em causa o seu valor intrínseco, pelo contrário (7). O Reconhecimentos dos paralelismos entre Yoga e outras Místicas, como a Cristã ou a Islâmica, é outro dos grandes avanços do momento presente.



Joel Machado



Notas
(1) A History of Indian Philosophy (5 Vol). 2003.
(2) Yoga. Immortality and Freedom, 1958.
(3) A History of Modern Yoga: Patanjali and Western Esotericism, 2005.
(4) The Yoga tradition, 1998.
(5) Roots of Yoga, 2017.
(6) Yoga Body: The Origins of Modern Posture Practice, 2010.
(7) http://hyp.soas.ac.uk/



Bibliografia

Dasgupta, S. (2003) A History of Indian Philosophy (5 Vol). Delhi, India. Motilal Banarsidass.

Eliade, Mircea (1958) Yoga. Immortality and Freedom. New York. Princeton.

De Michelis, Elizabeth (2005) A History of Modern Yoga: Patanjali and Western Esotericism. London. Bloomsbury Publishing PLC.

Feuerstein (1998) The Yoga tradition. Phoenix, Arizona. Hohm Press.

Mallinson, James & Singleton, Mark (2017) Roots of Yoga. London. Penguins Classics.

Singleton, Mark (2010) Yoga Body: The Origins of Modern Posture Practice. New York. Oxford University Press.


(Selo de Paśupati | Foto/Créditos: Domínio Público)


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domingo, 27 de março de 2022

(Artigo de Reflexão) cakra | चक्र | roda

Cakra, literalmente “roda” ou “ciclo”, em sânscrito, é um dos termos que epitomizam o Yoga Moderno. Actualmente, o significado comum de cakra aponta para um locus psicoenergético enquadrado na “anatomia” do corpo yoguico. Em função disso, é um conceito que se entende na sua relação com as definições de nāḍī, canais ou rotas de circulação, e prāṇavayu, energia vital circulante. Se admitirmos que o corpo físico continua além do que é apreensível pelos cinco sentidos grosseiros, numa espécie de “matéria” ou “espectro” progressivamente subtil, então, os cakra-s são pontos nessa instância responsáveis pela metabolização de energia vital. Daqui derivará uma imagem usual dos cakra-s como sendo vórtices que sorvem e expelem prāṇavayu-s ou energia, em alinhamento com a respiração. O contemplativo através de técnicas específicas (mecânicas, pneumáticas e meditativas), pode influenciar a modulação dos cakra-s, modificando o estado de consciência.

Criou-se a ideia generalizada de que existem sete cakra-s principais ou “canónicos” e que estão hierarquicamente dispostos ao longo da coluna vertebral em associação a determinadas glândulas endócrinas, cores, mantra-s e toda uma panóplia de atributos. Da base da coluna ao topo da cabeça temos então: mūlādhāra ou “raiz”, svādhiṣṭhāna ou “assento do ser”, maṇipūra ou “cidade da jóia”, anāhata ou “indestrutível”, viśuddha ou “puríssimo”, ājñā ou “comando”, e sahasrāra ou “mil pétalas”.

Tal como para a prática de āsana, também no que respeita aos cakra-s, há uma série de reinterpretações e invenções que se disseminaram, principalmente a partir do encontro do Yoga com a Cultura e Pensamento Ocidentais. Exemplos claros disso são: a tradução do Ṣaṭcakranirūpaṇa (“Análise sobre os Seis Cakra-s”) por John Woodrofe (de onde deriva o sistema popular de seis cakra-s); C. W. Leadbeater com o livro The Chakras (de onde derivam um série de sincretismos, como a atribuição de novas cores a cakra-s); a menção de Mircea Eliade em Yoga, Immortality and Freedom, por exemplo a H. Walter (de onde deriva a associação de cakra-s a plexos anatómicos); e C. G. Jung e o seu ciclo de palestras sobre cakra-s e kuṇḍalinī (de onde deriva a atribuição de aspectos psicológicos aos cakra-s).

Com efeito, as ideias anteriormente mencionadas são de algum modo contrariadas pela Tradição Textual do Yoga. Apesar de alguns autores, como Feuerstein (Tantra. The Path to Ecstasy), por exemplo, alegarem que textos védicos já falavam de cakra-s, olhando para essa literatura a alegação parece mais especulativa que factual. Observando a evolução da tradição textual no Yoga parece claro que o conceito de cakra “só” ganha importância a partir do Tantra-Haṭha e sobretudo com o advento do New Age. Parece também que o conceito inicial de cakra não remetia para uma estrutura diferenciada, um atributo real e intrínseco do corpo yoguico, antes para um foco de meditação. Vários textos referem-se a cakra-s ou sinónimos (granthi-s e ādhāra-s), como pontos-focais onde devemos concentrar a nossa atenção. Os próprios sistemas de cakra-s foram variando enormemente pelo que, ao longo dos séculos as literaturas Tântricas e do Haṭha apontam diferentes sistemas de 4, 6, 7 e 9 cakra-s, que variam quanto à importância relativa. O Yoga Budista, sobretudo o Tibetano, apresenta também consideráveis variações nos sistemas de cakra-s que propõe.

Pode alegar-se, oportunamente, que a Tradição Textual é limitada em comparação à Transmissão Iniciática, ocultando ensinamentos essenciais do Yoga. Contudo, também é importante manter reserva quanto à aceitação acrítica de qualquer informação e, ao invés, procurar várias fontes. Em suma, se os cakra-s são um mero referencial meditativo, uma descoberta “real” da investigação contemplativa ou um misto dos dois é algo que deverá ser configurado com parcimónia e sensatez.

 

Joel Machado


 

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sábado, 26 de março de 2022

(Prāṇāyāma) Sequência Preparatória Geral

Invocação e Saṅkalpa
 
=> Siddhāsana
     •    Com suporte: placas, blocos ou almofada-de-assento
     •    Meditação [1-5m]
 

Preparação I

=> Adho Mukha Śvānāsana => Uttānāsana => Adho Mukha Śvānāsana
=> Adho Mukha Vīrāsana => Pārśva Adho Mukha Vīrāsana (Esq. e Dir.)
=> Adho Mukha Vīrāsana => Parivṛtta Adho Mukha Vīrāsana (Esq. e Dir.)
     •    Com suporte: cadeira
     •    Ujjāyī 1: Observação da Respiração não-condicionada em permanência nas posturas [1m a 3m]
 

















 
 

Execução I (Respiração Baixa e Média)

=> Adho Mukha Vīrāsana
=> Pārśva Adho Mukha Vīrāsana
     •    Com suporte: blocos
     •    Ujjāyī 1: Observação da respiração baixa/média, não-condicionada [1-3m]
 


 
 
 
 
 
 
 
 
Execução II (Respiração Média e Alta)

Ūrdhva Mukha Śvānāsana
•    Com suporte: cadeira ou cinto
•    Ujjāyī 1: Observação da respiração média/alta, não-condicionada [1-3m]





 
 
 
 
 
 
 
Execução III (Respiração Baixa, Média e Alta)
 
=> Vajrāsana, Sukhāsana, Sidhāsana ou postura sentada
     •    Com suporte: placas, blocos, almofada-de-assento ou cadeira
     •    Ujjāyī 1: Observação da respiração baixa, não-condicionada [1m a 5m]
     •    Ujjāyī 1: Observação da respiração média, não-condicionada [1m a 5m]
     •    Ujjāyī 1: Observação da respiração alta, não-condicionada [1m a 5m]
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 

Execução IV - Postura Deitada 
 
=> Śavāsana
    •    Com suporte: almofada-dorsal e cobertor /ou/ bolster e cobertor
    •    Postura deitada com ligeira extensão da coluna dorsal e/ou lombar
    •    Ujjāyī 1: Observação da Respiração não-condicionada [1m a 5m]
    •    Ujjāyī 2: Observação da Expiração condicionada (a cada 3º ou 5º ciclo respiratório) [1m a 5m]
    •    Ujjāyī 3: Observação da Inspiração condicionada (a cada 3º ou 5º ciclo respiratório) [1m a 5m]
    •    Ujjāyī 4: Observação da Respiração condicionada (a cada 3º ou 5º ciclo respiratório) [1m a 5m]
 

 
 
 

Relaxamento Final
 
=> Śavāsana
     •    Com suportes: almofada e tapa-olhos
     •    Ujjāyī 1: Observação da Respiração não-condicionada [5-10m]
 


Evocação e Saṅkalpa
 
=> Siddhāsana
     •    Com suporte: placas, blocos ou almofada-de-assento
     •    Meditação [1-5m]
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas:
    •   Duração programada de 45m a 1h15.
 
Advertências:
   •    Esta prática requer preparação mínima, devendo ser sempre monitorizada por um professor responsável 


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