sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Workshop | Yoga e Respiração, Fundamentos da Prática | Yoga and Breath Fundamentals of Practice

Oficina de Yoga e Respiração | Fundamentos da Prática de prāṇāyāma

A respiração é o movimento omnipresente a todos os seres. A pessoa consciente da sua respiração, características e variações, terá maior discernimento e capacidade de mudar o que pode ser mudado, bem como, de aceitar o que não pode ser mudado. 

Nesta Oficina, propõe-se introduzir o básico da teoria e prática da respiração não-condicionada e condicionada (prāṇāyāma), num enfoque meditativo e à luz da Tradição do Yoga Hindu.

Alguns dos aspectos a serem abordados:

Respiração condicionada e não-condicionada;

Inspiração e expiração;

Mente , Meditação e Respiração.

Duração:  duas horas (18h-20h)

Local: https://6sensesyoga.life/ (Sesimbra, 27 de Setembro)

Preço: 25€ (alunos) / 30€ (visitantes)

Inscrição: https://www.momoyoga.com/6sensesyoga/lesson/14476324/breath-meditation-self-exploration-workshop-series

Professor/Formador:

Joel Machado Baptista

Licenciado em Psicologia, Mestre em Jornalismo, pós-Graduado em Estudos e Filosofia Orientais

Praticante de Yoga há décadas e Professor certificado pela Yoga Aliance Professionals


Yoga and Breath Workshop | Fundamentals of prāṇāyāma Practice

Breath is the movement omnipresent to all beings. A person aware of his breathing, characteristics and variations, will have greater insight and ability to change what can be changed, as well as, to accept what cannot be changed. 

In this Workshop, we propose to introduce the basics of the theory and practice of unconditioned and conditioned breathing (prāṇāyāma), in a meditative approach and in the light of the Hindu Yoga Tradition.

Some of the aspects to be covered:

- Conditioned and unconditioned breathing;

- Inspiration and expiration;

- Mind, Meditation and Breath.

Duration: two hours (18h-20h)

Place: https://6sensesyoga.life/ (Sesimbra, 27th of September)

Price: 25€ (students) / 30€ (visitors)

Booking: https://www.momoyoga.com/6sensesyoga/lesson/14476324/breath-meditation-self-exploration-workshop-series

Teacher/Trainer:

- Joel Machado Baptista

- Degree in Psychology, Master in Journalism, post-graduated in Oriental Studies and Philosophy

- Yoga practitioner for decades and certified Yoga Alliance Professionals teacher




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domingo, 17 de julho de 2022

Yoga, Meditação e Respiração | Actividades Em Linha e Presenciais

Olá,

Espero que esta mensagem vos encontre bem.

A quem posso interessar, venho divulgar uma série de actividades em linha e presenciais que estarei a promover a partir de Setembro, dando início ao ano lectivo de 2022/23.

Prática regular de Meditação e Yoga Respiratório:
  • Aulas focadas na prática de técnicas de respiração, com enfoque meditativo;
  • Aplicação de técnicas genéricas, oriundas de várias tradições espirituais (Yoga Hindu, Yoga Budista, Mística Cristã);
  • 2ªs e 6ªs das 18h30 às 19h30; • Em Linha (skype).
  • 1x semana, 40€ | 2x semana, 50€ | 3x semana, 60€.
Prática regular de Meditação e Yoga Postural:
  • Aulas focadas na prática de posturas de yoga, com enfoque meditativo;
  • Exploração de vários estilos, sobretudo haṭha e tantra.
  • 4ªs das 18h30 às 19h45;
  • Em Linha (skype).
  • 1x semana, 40€ | + Yoga respiratório 1x, 50€ | + Yoga respiratório 2x, 60€.
Passeio Meditativo de Equinócio:
  • Tendo como motivo o tema do Equinócio de Outono, e seu profundo significado, propõe-se um dia com práticas de yoga, escrita terapêutica e caminhada contemplativa, pela Serra de Sintra.
  • Sem almoço incluído, pelo que deverá trazer-se.
  • 24 de Setembro, Sábado, das 10h às 17h.
  • Presencial • 18€
Consultas de Mentoria e/ou Terapia numa perspectiva Transpessoal
  • Marcação prévia mediante disponibilidade;
  • Presencial, em Rio de Mouro (Sintra) e Góis (Coimbra)
  • Em linha (skype/telegram/whatsapp);
  • Individual: primeira consulta, 50€; consultas subsequentes, valor a definir mediante a situação específica;
  • Em grupo: primeira consulta, 50€; consultas subsequentes, valor a definir mediante o número de participantes.
Proponho também duas caminhadas para recolha de plásticos e lixo, em acção voluntária, nos dias 31 de Julho (Montado da Morelena – Sabugo) e 28 de Agosto (Bosque de Olelas – Sabugo), com hora de encontro pelas 15h. Em breve, sairão datas, locais e valores para outros cursos, onde se incluirão acções de sensibilização ambiental.

Para mais informação, queiram contactar através de jehoel@gmail.com ou (+351)968784015.

Obrigado.

Tudo de bom.






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sexta-feira, 22 de abril de 2022

(Yogāsana) Sequência Sentada de Extensões da Coluna - Média Intensidade

Invocação e Saṅkalpa

=> Vajrāsana


Preparação I

Aquecimento muscular e articular [5-10m]

Preparação II

=> Adho Mukha Śvānāsana <=> Uttānāsana (3x) [1m]


Preparação III

=> Sūrya Namaskāra [3 ciclos | respiração livre 5x em Adho Mukha Śvānāsana]






Desenvolvimento - Extensões sentadas da Coluna

=> Paryankāsana (c/ suporte – bloco na linha das omoplatas) [1-3m]
=> Paryankāsana (c/ suporte – bloco entre as omoplatas) [1-3m]



Desenvolvimento - Extensões deitadas da Coluna

=> Supta Baddha Koṇāsana [1-3m]


=> Setu Bandha Sarvāngāsana [1-3m]


=> Chatuspādāsana [1-3m]

 
Invertidas

=> Halāsana [1-2m]
=> Sālamba Sarvāngāsana [3-5m]
=> Eka Pāda Sarvāngāsana [1-2m]
=> Halāsana [1-2m]


Relaxamento final

=> Śavāsana [5m]


Notas:
  • Assumir como foco meditativo um ou três aspectos coordenados: (1) a respiração no seu natural (ujjāyī); (2) o alinhamento postural; e (3) a coordenação entre os movimentos e o discorrer da respiração.
  • Duração programada de 1h30 a 2h.

Advertências:
  • Esta prática requer preparação física e conhecimento aprofundado de Yogāsana, pelo que requer o acompanhamento de um professor consciente.
  • Efeito potencialmente excitante, pelo que deve ser evitada aplicação da prática a partir do final da tarde e noite.
  • A prática de extensões avançadas é desaconselhada a quem não tenha preparação prévia, estando a sua má aplicação associada a lesões graves.


Fotografia | @pedrovilla | https://www.pedrovillafoto.pt/


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quinta-feira, 21 de abril de 2022

(Artigo de Reflexão) nāda | नाद |vibração

Como muitos termos sânscritos, nāda vai tendo várias definições, algumas distando mais entre si que outras. Geralmente, na Metafísica de algumas escolas de pensamento e seitas indianas de Yoga, nāda, define a “vibração insondável” que preenche o Cosmos. Trata-se de um som subtil, inaudível, contrariamente ao som grosseiro e ponderável. Esta ideia deriva da concepção de uma gradação hierárquica da vibração, consubstanciada numa gradual materialidade consubstanciada até ao mundo terreno. Usa-se para explicar essa gradação, com frequência, uma alegoria assente na evolução da Linguagem. Assim, a progressão do mundo material parte de uma palavra transcendente, para uma subtil, chegando à grosseira. Aqui o termo “palavra” pode bem ser substituído ou igualado ao termo “som”. Aliás, a “palavra” é “som”, algo consistente com a constante equivalência entre os conceitos de śabda e nāda. Śabda Brahman e nāda são a primeira expressão da criação, o Substracto. É interessante se relembrarmos que o Velho Testamento afirma que “no início era o verbo”. Extrapolando, obviamente, pode haver aqui uma paridade.

Nāda traduz o som, tom ou pulsar matricial do universo, mas também a corrente contínua de Consciência. Essa Consciência ou Vibração Primordial materializa-se somente fruto da conjugação com bindu, o “ponto”, um pressuposto Tântrico. Com efeito, segundo segmentos da filosofia Śākta, o Tantra matriarcal, nāda é a Pura Consciência na iminência de se manifestar, materializando-se ao associar-se a bindu. Temos portanto uma díade nāda-bindu, respondavel pela criação da materialidade, do mais subtil ao grosseiro, onde nāda é Śakti e bindu representa Śiva. Outras interpretações invertem esta paridade equiparando bindu a Śakti e nāda a Śiva. Talvez interesse reter “apenas” a premissa fundamental: que há um potencial criativo de concretização que, quando activado por um princípio activo, efectiva a materialização num espectro de progressiva densificação. Interessantemente, a Igreja Ortodoxa Oriental poderá ter na sua Teologia um pressuposto semelhante, se relembramos os conceitos de ousia e energeia. A primeira instância, essência, traduz tudo aquilo que subjaze, mas não “é” materialmente. A segunda instância, energias, indica a consubstanciação da acção no mundo. Ora, ousia e energeia formam uma díade, tal como a bindu-nāda e Śiva-Śakti. Estamos a falar do binómio metafísico potência-acção.

Tendo nāda uma natureza “acústica”, subtil e grosseira, faz sentido que esteja associado à teoria e prática de mantra, no seio do Yoga. Do nāda, princípio sonoro transcendente, evoluem discurso, frases, palavras, sílabas e letras, até ao subtil. Esse é o itinerário proposto, em geral, pelo mantraśāstra ou “ciência do mantra”. Portanto, tais práticas que vão da vocalização do mantra à sua recitação interior, visam atingir ou recuperar a capacidade de perceber a vibração subtil nāda, interiormente. A Tradição e literatura do Yoga, em geral, afirma que isso é possível, através de técnicas de interiorização da atenção que mitigam ao máximo ou encerram a percepção sensorial. Um exemplo é o nāḍānusandhāna na Haṭhapradīpikā.

O conceito de nāda, a par de outros, tem ganho relevo recentemente na cultura mainstream do yoga, pelas especulações em torno da sua validação científica. Dissemina-se a ideia de que nāda, enquanto vibração perene subjacente ao universo, manifestado e não-manifestado, é uma noção comprovada pela Moderna Física. A saber-se, e até ao momento, isso constitui mais um sincretismo, num rol já conhecido, do que facto.

Assumidamente subjectiva, é a curiosidade de nāda sânscrito poder associar-se foneticamente ao “nada” português. Sobretudo se reconhecermos que o termo possa e seja empregue com uma conotação, diríamos mística-poética, quando alude ao Todo que pervaga tudo, o Eterno Vazio de onde tudo mana.

Joel Machado

 


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terça-feira, 19 de abril de 2022

(Ruy Freire Filho) As Plantas no Yoga

Debaixo das folhagens, flores, frutos, ramos, raízes, caules e troncos   da  densa flora que cobre a geografia sagrada (Bharat avarsh)  do subcontinente indiano,  um gigantesco panteão de santos , elementais, deuses e deusas se abriga.  Não à-toa, as plantas, de acordo com  os shastras (escrituras sagradastransformam a energia que transita entre o cosmo e o planeta, que se dispersaria aleatoriamente,  no combustível  da própria existência. Segundo o Atharva Veda os vegetais capturam o alento vivificador (Prana) esparso na atmosfera e, como fios condutores, espalham a vida na  natureza (prakriti).

 

“1-Nos curvamos ao Prana , ao qual o mundo é submisso, que é o senhor de tudo, e onde tudo se sustenta.

2-Nos curvamos, ò Prana, ao rugido de teu vento, nos curvamos, ò Prana ao teu trovão, nos curvamos, ò Prana aos teus raios, nos curvamos, ò Prana a tua chuva. Quando o Prana faz seu chamado ás plantas com seu trovão, elas são fecundadas, concebem, e produzem abundancia.

3-Quando a estação chega  e o Prana convoca ruidosamente as plantas, todas as coisas sobre a terra se rejubilam.

4-Quando o Prana rega a grande terra com chuva, os animais celebram: ” a força, de fato, agora vamos obter. “

5-Quando são regadas pelo prana  , as plantas em conjunto proclamam:” Você de fato prolongou nossa vida e nos fez fragrantes”

16- As plantas sagradas (atharvana), as mágicas (angirasa), as divinas   e aquelas produzidas pelo homem, se desenvolvem, quando tu Prana, acelera  seu  movimento.”

 

Nos Upanishades, coletânea de textos metafísicos, o  Prana é a essência e força motriz da vida consciente (Jiva).  “Pelo prana como que por um cordão, este mundo, o outro mundo, e todos os seres são mantidos juntos” ( Brhadaranyaka Upanishad )  ou, como explica  o rishi  Pippalada, a um discípulo “ O Prana nasce da Alma do Universo (Atman) mas como um homem e sua sombra, o Atman e o prana são inseparáveis. Ele entra no corpo pela ação da mente (manas)”(   Prasna Upanishad  ).

Além do alento (Prana) que sustenta a organicidade da existência, as plantas  contem a semente da consciência (cit). Na visão  das escrituras, antes de atingir o plano humano e estar apto a transcender ao seu nível mais elevado através do Yoga, o ser consciente  (Jiva) passa por 84 milhões de estágios (nascimentos), na  forma de  vegetais, animais aquáticos, insetos, passáros e animais superiores.  Dotado da capacidade de capturar a força  que a natureza  dispersa ao acaso  na forma de raios, ventos, trovoadas e chuvas, através das  folhas, e transformar o mundo mineral inerte em vida com suas raízes, o reino vegetal ao aglutinar a natureza expansiva da energia (Shakti) à contenção e limites impostos pelos elementos grosseiros da matéria  (mahabhutas), molda as primeiras estruturas da consciência.

A flora  exposta a toda a sorte de percepções quando interage com diversos solos, topografias e climas,  cria  a diversidade inicial  dos padrões  mentais (cit). O sábio( rishi) Bhrigu, no épico Mahabharata,  esclarece  Bharadhvaja que as plantas são detentoras de todos os  sentidos: podem sentir calor, ouvir sons, perceber  odores , degustar  o sabor da agua que absorvem, e  mesmo experimentar a  visão quando  buscam a luz.

Com  prana e cit (consciencia ) sendo os dois pilares do caminho (sadhana) do yoga, a flora  estaria fatalmente emaranhada na via da libertação (moksha) . Assim, na  primeira obra que compila o yoga como sistema, os Aforismos de Patanjali , moksha é alcançado  pelo controle da consciência (cit)  através  do prana disciplinado; e  no primeiro verso de do  quarto e último capitulo que trata sobre a transcendência (Kaivalya), Patanjali  faz  referencia ao uso de ervas  :

 

“Os siddhis  (poderes) podem ser alcançados por nascimento, por ervas medicinais (auşadhi), por mantras, pelo Tapas ou por samadhi”

       

rishi (sábio) Vyasa ao comentar  esta passagem (Yoga Bhasya), esclarece que ervas podem ser usadas para a transcendência. Mas faz uma advertência.  O conhecimento das ervas é uma ciência de domínio dos titãs  (asuras), seres míticos inimigos dos deuses (devas),  que muitas vezes põem seus conhecimentos ao alcance dos homens, dando a eles independência da intervenção divina. E o poder humano, desregrado da vigilância divinal, pode muitas vezes desandar  em impulsos mundanos.

 

“Ele descreve a perfeição alcançada com ervas. Um ser humano que por uma razão ou outra alcança a mansão dos asuras, e quando se utiliza dos elixires trazidos a ele por donzelas e asuras, alcança a ausência da idade e a imortalidade e outras perfeições (siddhis). Ou (esta perfeição pode ser alcançada) pelo uso de um elixir da vida neste mundo. Como por exemplo o sábio Mandavya, que morou nos Vindhyas e fez uso dessas poções.”(Yoga Bhasya, Vyasa)

 

Comentários posteriores como o do século lX de Vācaspati Miśra , compartilham esta visão, e  intercambia o termo ervas mestras (ausadhi) com alquimia (rasayana)  e declara que um um homem pode ser iniciado ”ao atrair donzelas asuras”. No Bhagavatta Purana o termo alquimia ( rãsa /rasayana) é utilizado como o das ervas medicinais encontradas “na morada dos Asuras”.

Elemento central  no ayurveda (medicina védica)   na construção da saúde e bem-estar,  o vínculo das ervas  com o mundo dos Asuras, seres muitas vezes mais dominados por impulsos do que por discernimento,  levantou a suspeita de que  o uso deste recurso seria  um percurso  perigoso no yoga , principalmente na ótica do bramanismo ortodoxo. E até para doutrinas que questionam a autoridade dos Vedas como o jaínismo e budismo theravada, a cautela  deve  ser observada.  O sábio jainsta Hemchandra chega a colocar o yoga como uma via para prescindir do uso de ervas, mantras e de ferramentas  próprias ao  tantra.

 

“Yoga (ou as três jóias do Jainismo) é (como) um machado afiado para o emaranhado das trepadeiras de todas as calamidades. È uma forma sobrenatural para se alcançar a felicidade e libertação sem (o uso ) de ervas medicinais (mūla-estar enraizado, de plantas e árvores), encantamentos (mantras) ou (ensinamentos) tântricos (tantra).“ (Yogasastra Hemchandra 1.5)

 

Paradoxalmente, na contra-mão,  a tradição ortodoxa encrava na raíz da transcendência uma  planta . Trata-se do  soma, planta da qual pouco se sabe,  elemento chave  do ritual védico, o mais poderoso  instrumento das revelações,  louvado em todo Sama Veda e em todos os versos do nono livro do Rg veda (114 no total):

 

“O soma é um deus; ele cura

as mais agudas doenças que afligem o homem

ele cura os enfermos, alegra os que sofrem,

estimula os fracos, afasta os temores;

Aos frágeis ele incandesce com fogos marciais,

A alma da terra aos céus ele eleva

São tão grandes e assobrosos seus dons,

O homem sente o deus em suas veias

E gritam em toadas altas e exultantes

Nós sorvemos o brilho do soma

E  nos tornamos imortais

Nós entramos na luz

E conhecemos todos os deuses

Que mortal agora pode nos ferir

Ou inimigo  ainda nos humilhar?

Através de vós, sem temores, Deus imortal

Nós voamos alto.” (Rg Veda)

 

A identidade vegetal  do Soma é no entanto  desconhecida.  Em seu tratado de medicina Charaka descreve: “a rainha das ervas conhecida como Soma, tem quinze nós no estame” lançando a suspeita sobre a Efedra (Asclepias acida). Outros conjeturam que os seis lados côncavos das abóbodas dos templos de Ellora revelam que a Amla (Emblica officinalis) é o soma.  Indiferentes à  sua classificação botânica, os textos (shastras) indicam que juntamente com Indra o deus da chuva e rei dos devas (deuses), de Agni (deus do fogo), o deus/planta Soma formava a trindade central do culto védico, sendo disputado por devas e asuras.

Se o papel da flora no caminho da libertação e transcendência teve sua importância podada pela casta sacerdotal , nas camadas populares, onde as tradições anímicas e femininas  tem raízes, ela manteve  sua preponderância, e nas tramas do pensamento tântrico floresceu em sacralidade, associada incialmente aos rituais e cultos às dríadas (yakshinis), elementais femininos regentes de inúmeras espécies botânicas. E foi,  principalmente através das dríadas (yakshinis), ninfas moradoras das árvores, que os vegetais brotaram em vários caminhos do yoga.  Manuscritos medievais  se referem as  yakshinis como  um caminho de aprimoramento espiritual (yakşinī-sadhana ),  através  de  poções capazes de um magnetismo tão poderoso que atraí  a própria deusa (Bhairavi)  no auxilio da transcendência do aspirante (sadhaka). Estas  yakshinis são denominadas yoginis,  e gradualmente muitas viram shaktis (matrizes de potencia) e mesmo devis (deusas).

Crenças populares indianas vêm as plantas como intercessoras entre os astros celestes e os tecidos corporais.  A cevada por exemplo media a relação do sol com os ossos, enquanto o grão de bico viabiliza a interação de Júpiter com a gordura. Assim, transmutadas em tecidos corporais (dhatus) as yoginis estão presentes nos no sistema de chakras (vórtices energéticos que transcrevem o plano sutil para o mundo tangível  ). Na obra sobre chakras  mais popular no ocidente, o Sat-chakra-Nirupana,  assentada no  muladhara,   a yoguini Shakini controla os ossos; no  svadhisthana  Kakini, domina a gordura; no manipura Lakini rege  os músculos; no anahata  Rakini, o dirige sangue; no vishuddha  Dakini  administra o plasma; no  ajna  Hakini governa os nervos; no  sahashara  Yakini gere os tecidos reprodutivos.

Entre os Nathas,  ascetas que sistematizaram e propagaram o hatha yoga,  os vegetais  são reverenciadas por dois de seus principais patronos. O lendário Matsyendra  que traz para a humanidade o conhecimento do Hatha Yoga ao entreouvir as explanações que  o deus Shiva dá à sua consorte Parvatee sobre este caminho, é um adorador das sessenta e quatro yoginis /yakshinis /plantas divinas (divyāusadhis) . No seu sistema de oito chakras com oito pétalas,  cada pétala  é  regida por uma divyāusadhis/yogini , e muitas destas plantas divinas são mencionadas em sua obra Matsyendra Samhita. Gorakhnath, seu discípulo, e principal difusor do hatha yoga, expõe como as divyāusadhis (plantas divinas), nascem nos locais onde Shiva se une à sua consorte (shakti)  e se transformam mediante processos alquímicos nas yoginis (Goraksha Samhita Bhūtiprakarana).

Quase toda flora do subcontinente indiano  tem um patrono divino, ou santo. Vishnu  está  associado à figueira e o basílico , enquanto Shiva  está ligado  à   Bilva  (Aegle marmelos ) e ao Rudraksha (Elaeocarpus Ganitrus Roxb). Via de regra estes vegetais são apenas os indicadores botânicos da presença dos respectivos  regentes, porém produtos que vão das flores,  folhas, cascas, sementes se integram com frequência ao próprio culto à divindade. No plano mítico, Shiva  recorre aos efeitos ansiolíticos de uma planta para suportar a perda da esposa Sati, enquanto Vishnu vai além e contraí matrimônio com Tulsi, a alfavaca (Ocimumum sanctum).

A relação  entre  o sagrado e o botânico  é ainda mais frutífera entre as deusas e entidades femininas. Na versão Shakta  (culto às devis-deusas) do hinduísmo, as deusas são identificadas pelas árvores em flor. A  jaqueira representa a deusa Shashti; a palmeira, Badhrakali; a bananeira ou a cadamba , Kali; , o tamarindo , Kubjika e Laxmi está no lótus. A sombra das árvores são consideradas sagradas, e debaixo delas ocorrem processos mediúnicos. A anatomia de árvores e plantas , suas emissões,  correspondem  ao corpo e humores  da mulher e da deusa. As flores são a vulva da deusa com o poder de engendrar, multiplicar, vivificar, materializar.  Plantas enredam  a trama  do plano divino ao humano. Revelam os mecanismos e os processos que controlam o mundo da matéria, e concedem um conhecimento velado às percepções corriqueiras.  É através de  árvores, trepadeiras, raízes, e parreiras que a  deusa Kubjikā (Nepal)  transmite  seus ensinamentos.

A popularidade de  yakshinis, yoginis, shaktis e deusas levaram à  inevitável associação da flora à feminilidade. E não só a ligação de yoginis/devis orientais com flores e frutos, como de Eva com a maçã no ocidente, apontam as plantas na rota que vai da tentação à perdição. Em tradições predominantemente masculinas, fatalmente estes cultos acabam sob suspeição: os vegetais, fortemente associados à materialidade, não podem ser um caminho para a libertação (moksha).

 

“Krishna  disse: Afirma-se que existe uma figueira-da-bengala (peepal) imperecível, cujas raízes ficam para cima e os galhos para baixo e cujas folhas são os hinos védicos. Quem conhece esta árvore é um conhecedor dos Vedas.

2. Os galhos desta árvore se estendem para baixo e para cima, nutridos pelos três modos da natureza material (gunas). Os brotos são os objetos dos sentidos. Esta árvore também tem raízes que descem, e estas estão atadas às ações fruitivas da sociedade humana.

3-4. Não se pode perceber a verdadeira forma desta árvore neste mundo. Ninguém pode compreender onde ela acaba, onde começa, ou onde ela se alicerça. Mas com determinação deve-se derrubar com a arma do desapego esta árvore fortemente arraigada. Em seguida, deve-se procurar aquele lugar do qual ninguém volta após ter chegado lá e render-se a Brahman  de quem tudo começou e de quem tudo emana desde tempos imemoriais” Bhagavad Gita (capítulo XV, versos 1, 2, 3, 4)

 

Esta identificação da figueira (peepal) com o mundo transitório, material, de nascimentos e mortes, não é definitiva. Inconformada com a linearidade cartesiana dos dogmas, a cultura hinduísta se mimetiza na diversidade da natureza, e resgata o mito do peepal em uma parábola onde esta árvore abriga a própria Trimurti (Trindade divina hinduísta), sendo as raízes Brahma, o tronco Vishnu e as folhas Shiva.

Em uma tradição onde o mundo orgânico está fortemente  atrelado ao mundo sutil e troncos/estames/flores/frutos/raízes/cascas/folhas,  podem sanar  e  harmonizar o corpo,  este mesmo efeito se projeta também sobre um plano metafísico. E assim, mesmo com o alerta  de várias escolas sobre os riscos de seus discípulos caírem dos galhos escorregadios deste percurso botânico,  a  árvore do yoga mantem uma boa parte de suas raízes cravadas no reino vegetal.

 

Ruy Alfredo de Bastos Freire Filho

Diretor do Centro de Estudos de Yoga Narayana, em São Paulo/Brasil


(Árvore como Culto, Ruy Freire Filho)

 

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